domingo, 5 de fevereiro de 2012

Segunda semana nos Cuidados Intensivos

A segunda semana também não foi nada fácil, a primeira e a segunda foram as mais difíceis. A parte psicológica foi muito abaixo.

Dia 30 de Janeiro (segunda)
Foi o primeiro dia que sai da cama, pois já me conseguia mexer e aí é que já olhava para a minha volta e reparava nos tubos que me rodeavam, eram tantos e eu pensava para mim “Como é possível?”. Nem eu própria sabia.

No momento em que pus os pés no chão e me tentei levantar apanhei um enorme susto mas ao mesmo tempo uma grande preocupação. No exato momento em que me levantei caí mas o que valeu foi o enfermeiro estar ao pé de mim e me segurou.

Como é possível? Eu não tinha força nenhuma nas pernas, mas mesmo nenhuma, acreditem.
Assustei-me bastante, a primeira coisa que pensei foi que nunca mais iria andar.

O tempo que fiquei em coma, sempre deitada sem me mexer bastou para perder a força toda que tinha, já não era muita força que eu tinha mas bastou o tempo que tive em coma para perde-la completamente.
Os enfermeiros diziam que com o tempo e com a fisioterapia iria recuperar a força que tinha mas eu não acreditava porque nunca me tinha acontecido aquilo e estava muito preocupada.

Quando me sentei no cadeirão só olhava para a minha volta, como é que eu tinha aquilo tudo? Os drenos eram tantos, só esses eram uns seis drenos. Como é possivel? Eu nem me podia mexer, os enfermeiras e os médicos queriam que eu todos os dias fosse para o cadeirão mas para mim era sempre um sacrifício.

Já para não falar da fisioterapia, sempre que a fazia tinha imensas dores, eram só tubos e agulhas espetadas em mim, senão tivesse dores é que era estranho, mas eram mesmo muitas.

O que mais me chateava era a minha família só poder estar poucos momentos comigo, não poder nenhum familiar dormir comigo e o que eu precisava mais era do apoio dela porque só pensava se iria aguentar aquilo tudo, porque eu era a mais nova e supostamente os adultos aguentam melhor a dor.
Desde o dia que tirei o ventilador tinha sempre fome mas ainda me alimentavam pela sonda que tinha no nariz que ia até ao estômago.

Dia 31 de Janeiro (terça)
À tarde retiraram-me a algália que já me fazia uma certa confusão e à noite retiraram-me a sonda depois de ter bebido um chá e passado mais um bocado um iogurte, como não ouve reação de rejeição do estomago aos alimentos retiraram a sonda.

Dia 1 de Fevereiro (quarta)
Quando acordei recebi logo duas notícias. Uma era que iria retirar um cateter que tinha na virilha, a segunda notícia era que já não podia comer nada porque iria fazer um exame. Ui desde o momento que me avisaram não consegui manter a calma, porque aquele cateter era grande e iria doer bastante, estava colocado num sitio bem sensível e o exame já papitava qual era (fibroscopia).

Ao final desse dia já não tinha um cateter na virilha a chatear-me.
Pelo menos a meio da segunda semana já me sentia um bocadinho mais leve.
Mas o exame é para esquecer completamente. Eu sabia que no futuro iria fazer exames destes para controlar a cicatrização dos pulmões mas nunca pensei que corresse tão mal.

- Dá para fazer pela boca ou pelo nariz, eles escolheram pelo o nariz o que para mim era difícil.
- Só tinham material para adultos porque nunca tiveram uma criança tão nova transplantada pulmonar, ou seja, o tubo não passava pelo nariz e tinha imensas dores.
- Introduziram-me pela veia anestesia mas o meu sistema nervoso estava tão alterado que nem fechava pestana.
- Depois no exame vinha a tosse e os vomitos, o que complicava o exame porque depois tinham que retirar o tubo e começar de novo.

Conclusão: Os pulmões estão a cicatrizar normalmente mas fiquei o resto do dia traumatizada. E espero não fazer outro exame igual tão depressa.

Dia 2 de Fevereiro (quinta)
Foi o dia de retirar o oxigénio, foi também um grande dia, cheguei a pensar que não iria tirar, pois passei tanto tempo com ele e esquecia-me que agora tenho uns novos pulmões e já não preciso dele.
Quando o retiraram só olhava para a máquina e via sempre 98% de oxigénio mas sem os óculos nasais. IMPRESSIONTANTE!

Como era possível eu antes de ser transplantada estar tão mal com 160 batimentos cardiacos por minuto e 92% de saturação com 5 litros de oxigénio por minuto e agora estar tão bem com 98% e 90 e tais de batimentos? Não se consegue explicar. A medicina é assim!

Dia 3 de Janeiro (sexta)
Apareceu logo de manhã o Dr. Martelo (o cirurgião que me operou) e veio logo informar que me irá retirar dois drenos dos seis que tenho. Por um lado era bom sinal, mas por outro sei que vai doer bastante.O medo e nervosismo espalha-se.

Dia 4 de Fevereiro (sábado)
Hoje foi um dia para descansar das dores e de tudo o que já aconteceu, também para pensar da minha vida e como tudo passou tão rápido.
Parece que ainda foi ontem que estava no Hospital de Santa Maria e estava com duvidas se queria ser transplantada… Como tudo passou.Tão rápido. Um sonho…

Dia 5 de Fevereiro (domingo)
Hoje faz 2 semanas após transplante. Já me sinto mais leve! Já não tenho o ventilador, a algalia, a sonda, retirei aquele cateter da virilha, já não tenho oxigénio (óculos nasais) há 3 dias o que para mim é um ESPETÁCULO porque usei-o durante 1 ano e também retirei dois drenos. Doeu bastante mas agora que já não os tenho parece que já não me consigo lembrar da dor.

Foi uma semana complicada, com sofrimento físico e psicológico mas a moral já está a subir, tenho falado com a Beatriz Ferreira e a Ana Filipa (Transplantadas com a mesma doença que a minha) sobre dúvidas e medos mas já estou mais animada. Duas semanas já ultrupassadas!

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