domingo, 29 de janeiro de 2012

Primeira semana nos Cuidados Intensivos


A primeira semana foi a pior definitivamente! Não me conseguia mexer porque tinha o ventilador, uma algalia, uma sonda, seis drenos (são os tubos entre as costelas por onde sai os liquidos da cirurgia, três em cada lado das costelas), um cateter em cada virilha, um cateter no pé, um cateter na mão e por fim um cateter no pescoço.

Quando acordei pensava que era dia 23 de Janeiro mas não, era dia 29 de janeiro. Os médicos tinham-me posto em coma indusido durante 1 semana porque quando eu acordava os valores das maquinas começavam a alterar-se todos e as vezes eu queria ajeitar o ventilador porque estava torto so que os enfermeiros pensavam que eu queria tira-lo e tinham que me imobilizar os braços porque a tendencia é arrancá-lo.

Mas não era isso que eu queria fazer porque eu sabia que naquele momento o que me estava a ajudar a respirar era o ventilador. O problema dos ventiladores é que não nos permite falar porque atravessa a traqueia e eu não podia explicar que não queria arrancar.

Dia 28 de Janeiro foi o primeiro dia que não me deram sedativos para dormir porque já estava consciente da situação e a colaborar com os enfermeiros.

Fiquei uma semana em coma do dia 22 de Janeiro até 29 de Janeiro! Foi uma semana para esquecer, eu não dei por o tempo passar porque estava sedada, só nos ultimos dias da semana é que comecei a ter noção do que estava a acontecer.

No dia 28 fiquei toda a noite acordada porque já não estava com a medicação para dormir e não tinha sono, pensava que ainda não tinha sido transplantada.
Estava assustada e baralhada e como tinha o ventilador não conseguia perguntar aos enfermeiros se tinha sido transplantada.

Ter o ventilador foi desesperante! Lembro-me de estar na cama e de querer mexer-me mas não conseguia de tantos tubos que tinha, tinha que estar sempre quieta. Da sede que tive, foi horrivel, nunca tive tanta sede na minha vida. Os enfermeiros não podiam dar-me água porque eu estava a levar soro pela veia e podia engasgar-me com o ventilador e a água podia ir para os pulmões. Lembro-me também de querer abraçar a minha família, e não podia porque tinha as mãos amarradas.

Penso agora no sofrimento que os meus pais devem ter sentido, meus pais devem ter pensado que eu já não acordava. Penso também no que eles deviam pensar, de verem os dias a passar e de eu estar na mesma.
A primeira semana foi com toda a certeza a mais dramática e desesperante, não só pelo meu sofrimento e dos meus pais, também pelo sofrimento dos médicos eles não sabiam como iria correr porque eu fui a 1ª criança a transplantar os dois Pulmões em Portugal (como eu era pequena  tiveram que transplantar partes de pulmões do dador porque eram grandes para mim e daí a cirurgia ser tão complicada).

Eles tinham aceite o desafio de fazer o 1º transplante numa criança mesmo sabendo os riscos. Nos primeiros dias depois do transplante estava a ter febre de 39 graus e era muito preocupante. Entretanto passado uns dias depois do transplante a febre desapareceu.

Dia 29 era o dia de retirar o ventilador, o dia que eu, os médicos, enfermeiros e a minha família ansiávamos! Retirar o ventilador significava que estava melhor e já não precisava dele para respirar.
Olhava minuto a minuto para o relógio e para a porta à espera que entrasse a minha médica Dra. Luísa Semedo (que me avaliou numa visita ao Hospital de Santa Maria para eu entrar na lista de transplante) viesse retirar-me o ventilador.

Finalmente chegou o momento! Entra a Dra. Luísa Semedo e um enfermeiro.
Esse dia foi especial, o mais importante! Quando me retiraram o ventilador foi uma sensação única , nesse momento comecei a respirar sozinha pela primeira vez com os meus novos pulmões. Foi uma sensação espetacular, até entrou ar a mais!  Ganhei uma nova vida... Sei agora o que é finalmente respirar sem esforço, sem cansaço e sem estar constantemente a tossir e a vomitar espeturação.

De seguida colocaram-me o oxigénio (óculos nasais) para prevenção.
Fiquei bastante contente, os meus olhos brilharam! Uma etapa já estava, sei que tinha muitas ainda para ultrapassar mas pelo menos uma já estava e era a mais chata das etapas.

6 comentários:

  1. Os mágicos colocam alguém numa caixa e fazem-na atravessr com várias espadas. Contigo não houve magia, foi a realidade pura e dura. Excelente.

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    1. Obrigada! Pois, a realidade é que eu sofri mais o tempo que estive nos cuidados intensivos no Hospital de Santa Marta depois do transplante do que a minha vida inteira.

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  2. Minha querida, já te disse que tu és muito especial?? Só mesmo tu para teres essa força, essa coragem, essa vontade de vencer!!! Depois de tudo o que passaste, bem mereces um futuro muito, mas mesmo muito risonho. Há poucas pessoas neste mundo que eu admiro mas uma delas és tu. Tenho orgulho de ter sido tua educadora. Tu és um exemplo de vida. Espero que tudo continue a correr bem e que agora consigas realizar todos os teus sonhos. Um grande beijo.
    Leonor Mateus

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    1. Muito obrigada por tudo! Eu também tenho muito orgulho em ter sido sua aluna! Tenho bastantes saudades! Muitos beijinhos doces...

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  3. Deves ser realmente muito corajosa.eu também estive ligada a um ventilador e c varios drenos e cateteres pois tive uma Angina
    De Ludwig é uma médias rinite necrotizante na decorrencia da primeira mas para mim a experiência foi traumática,desesperante e muito dolorosa...e olha que sou uma adulta..
    Hoje estou bem mas estive internada 35 dias e fiz 3 cirurgias..
    Enfim isto tudo.para te dizer que tu ès um exemplo para todos...

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    1. Peço desculpa de estar a responder tão tarde, mas ultimamente tenho andado ausente no blog mas estou a retomar.
      Desde pequena que tenho que lidar com esta doença. Ser muito responsável e nunca perder a esperança foram elementos essenciais para sobreviver.
      Acredito que tenha sido uma desagradável experiência. Espero que esteja a recuperar bem. Obrigada por partilhar a sua história.
      Vá dando notícias!
      Obrigada

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